O que é uma sala de "pequeninos"?

28-02-2010 18:20

 

Uma sala de "pequeninos" ou apenas a primeira experiência?

A organização das classes por idade tem destas coisas: pequeninos, médios e grandes, sem haver certeza quanto ao que isto significa.
Os meninos que constituem o grupo "do Paulo" tem uma característica (quase) comum: partilham a novidade de uma primeira experiência na Instituição e até numa classe de Educação pré-escolar.
Estar nesta sala e neste contexto merece uma atenção especial. Antes de mais a questão da adaptação. A entrada para o jardim de Infância constitui-se como o primeiro contacto com um espaço formal de educação: a primeira escola. Uma escola é um espaço com um objectivo, regras e cultura organizada para este objectivo.
Quando se vem de casa, do calor dos "mimos" e cuidados da família para uma escola passamos de um espaço físico e afectivo conhecido e arrumado para nós, para um em que o desconhecido é maioritário e as regras falam de todos e não só de nós.
As crianças de 3 anos são caracterizadas pela dificuldade em "pensar" em si com os outros: a criança de 3 anos mais facilmente pensará em si só. Os textos sobre Desenvolvimento na Infância referem-se a este período com oum tempo de "egocentrismo", descrevendo uma dificuldade em pensar nos outros, nos desejos dos outros, na acção do outros... Não é defeito, apenas uma etapa de desenvolvimento.

O psicólogo  Jean Piaget divide o desenvolvimento mental da criança em quatro estádios, dos quais o estádio pré-operacional compreende os três anos de idade. Desde o começo  desta  etapa  a  criança    faz  uso  da  capacidade  simbólica,  não  dependendo somente das sensações. Embora não seja capaz de fazer operações lógicas e de se situar no  tempo, ela  já relaciona  significantes e significados: a  linguagem será a habilidade que mais se vai desenvolver.

São  características  principais  desta  fase:  egocentrismo  (a  criança  não  se consegue colocar no lugar do outro); centralização do interesse (a sua atenção fixa-se só num assunto de cada vez); dificuldade de perceber as relações de causa e efeito (ela não consegue associar transformações, fixando-se nos seus estados separados); desequilíbrio emocional (a sua estrutura psicológica não acompanha a grande quantidade de estímulos do  meio  ambiente  e  a  criança  defende-se  por  meio  de  birras  e  crises  de  choro); irreversibilidade de pensamento (ela é incapaz de raciocinar em —ida“ e —volta“).

Desenvolvimento Físico

Segundo Gesell  a  criança  nesta  fase  possui  uma  maior  capacidade  de autodomínio e a nível motor. Imita facilmente os movimentos que observa nos outros, é desembaraçada  e espontânea.  É  capaz  de  executar  jogos  de  encaixe, construir  torres, recortar papel com os dedos e manipular massas plásticas.

Nesta idade, parece que as energias da criança não têm fim. Tornou-se mais ágil e  isto  dá-lhe  uma  maior  segurança  em  si  mesma.  Sente-se preparada para abordar actividades mais exigentes, como subir  escadas,  caminhar  e  correr  com  confiança.

Todas  as  actividades que  incluam uma ampla variedade  de  movimentos como  correr, subir  e  pedalar, melhorarão  as suas habilidades e ajudá-la-ão  a  queimar  o excesso de energia.

Desenvolvimento Intelectual

Percebe claramente a existência de realidade exterior independente dela.  A sua atitude  é  mais  realista  e  objectiva.  Tem  grande  interesse  pelo  mundo  que  a  rodeia  e procura saber o —como“ e o —porquê“ das coisas.

Segundo  Bergeron,  —o  vocabulário  continua  a  constituir-se  e  o  sentido  das palavras estabiliza-se“. Calcula-se que o  vocabulário  passe de mil para 2000 palavras, sendo  a  palavra  —eu“  uma  das  mais  frequentes  nas  suas  longas  conversas.  Como  as habilidades verbais melhor am falando com outras crianças, é importante que se estimule para contactar com os seus pares.

Morfologicamente a criança já estrutura elementos e categorias gramaticais tais como:  substantivos;  verbos  (somente  os  de  acção  e  não  correctamente  flexionados); pronomes  pessoais,  possesivos,  demonstrativos  e  interrogativos);  alguns  adjectivos, advérbios e interjeições.

Nesta  etapa  a  sua  mente  é  mais  r ápida  do  que  a  sua  capacidade  para  formar palavras, de modo que,  por vezes gagueja na ânsia de  se explicar. Em geral as acções que exigem concentração são acompanhadas por monólogos. Pode  seguir instruções  e  regular  as suas  actividades por  iniciativa  própria.  As tarefas já são desempenhadas com mais atenção e cuidado. O pensamento nesta fase é mais consecutivo e combinatório do que sintético. Comove-se ao ouvir histórias e gosta de  as  reproduzir  utilizando  a  expressão  dramática.  Nas  actividades  de  dramatização, ainda não consegue manter o mesmo papel por muito tempo. É capaz de contar histórias entremeando ficção e realidade.

Desenvolvimento Social

Na opinião de Gesell, nesta fase a criança realiza mais contactos sociais e passa menos  tempo  em  jogos  solitários.    não  é  indiferente  à  presença  do  companheiro.

Consegue explicar-se e contar o que está a fazer. O interesse em conversar já caracteriza uma tomada de consciência do companheiro, do —outro“. Mas a colaboração é pequena, pois a criança ainda não ultrapassou a fase egocêntrica.

Nesta época começa a fazer amizades mais firmes, tanto com adultos como com outras crianças, e pode mostrar sinais de solidariedade quando os  outros  se encontram com problemas.  

O  jogo  tende  a  ser  mais  desinteressado  e  menos  egoísta,  contudo  sem grande consciência de regra. Embora ainda a possamos ver a brincar sozinha, tornar-se-á mais sociável e gostará de partilhar tempo e jogos também com os demais. A sua imaginação, muito produtiva nesta etapa, leva-o a ter amigos imaginários.

Todas estas características são apenas uma aproximação a cada criança em particular: uma criança é sempre um indivíduo. Não deixe de falar com o Educador para conhecer o desenvolvimento do(a) seu(sua) filho(a).

 

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